Quem acompanha meu blog sabe que não se trata de novidade meu interesse pela história do café, ferrovia e arquitetura da metrópole. O apreço pelo ciclo do café já me levou a muitos passeios interessantíssimos pelos arredores, incluindo a Vila de Paranapiacaba, a (recém-restaurada) Bolsa do Café de Santos, e o Museu Ferroviário de São Paulo - dentre muitos outros. Pois que na agenda cultural desta semana entrou o Museu Ferroviário da Sorocabana.
vista da parte central do vitral de conrado sorgemith, no interior da estação julio prestes, retratrando uma locomotiva da sorocabana |
Foi apenas em abril de 1856 que a província de São Paulo concedeu licença para um consórcio formado pelo Barão de Mauá e seus sócios capitalistas ingleses para construção do trecho que ligaria Santos a São Paulo, se prolongando posteriormente até Jundiaí. A Companhia Sorocabana de Estradas de Ferro veio a surgir quase 20 anos mais tarde - em 1875 - primeiramente focada no escoamento de algodão, mas rapidamente passando a ter como principal produto transportado o café, formando uma das 3 principais malhas ferroviárias para este transporte juntamente com a Mogiana e a Paulistana.
A história das ferrovias paulistas é apaixonante e merece muitos outros posts. Mas voltemos ao propósito deste, que é o de compartilhar a experiência de visita ao Museu Ferroviário da Sorocabana.
escultura em homenagem a luiz matheus maylasky, fundador da EFS |
Inaugurado em 1997, o museu encontra-se instalado num casarão do século XIX localizado em frente à antiga Estação Ferroviária, e no passado serviu de residência para engenheiros graduados da ferrovia. O acervo é bastante variado - fotos, máquinas, objetos usados no dia-a-dia dos funcionários da ferrovia, móveis belíssimos e até aparelhos de telefone e telégrafos antigos - porém infelizmente com identificação bastante deficiente (principalmente as fotos dos arredores da estação).
Duas dúvidas arquitetônicas me chamaram atenção em particular. Primeira: a maquete da Estação exposta no interior do museu o representa como sendo um prédio em toda sua extensão formado por dois pavimentos - mas um olhar mais atento pela janela logo atrás da maquete e de onde se avista o que restou do triunfo passado do belíssimo edifício da EFS sugere que em ambas as alas laterais (direita e esquerda), o prédio original teria apenas um pavimento, sendo dois pavimentos apenas em sua porção central, que abriga o pórtico da entrada principal.
E a segunda: num cartão comemorativo endereçado ao então presidente Getúlio Vargas e sua esposa, pelo que aparenta ter sido uma viagem política realizada por ambos nas acomodações da EFS, a imagem da Estação difere substancialmente de ambos - a maquete e o que restou do prédio original, mais se assemelhando ao traçado da Estação Julio Prestes, em São Paulo. Fiquei bem desapontada de ter saído sem entender o aparente erro de identificação na documentação do próprio museu da EFS. Mas o Google é o pai de todas as respostas e me ajudou a solucionar o enigma: o desenho no cartão do presidente correspondia ao projeto original da Sorocabana, apresentando detalhes arquitetônicos que nunca foram executados. Mas atenção: Sorocabana neste caso se refere ao nome original da Estação Julio Prestes de São Paulo - portanto, sim senhores, uma confusão e tanto!
Mas para fechar com uma pérola dentre os desenhos de nossas estações ferroviárias: vale a pena conferir o traçado da Estação Julio Prestes, numa reprodução que - segundo identificado - foi uma redução de um desenho original em escala 1:100, para escala 1:200. Emocionante vê-lo ao vivo!
Projeto original do arquiteto Cristiano das Neves para a então Sorocabana - atual Estação Julio Prestes - com a cobertura e as cúpulas que nunca foram executadas |
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