quarta-feira, dezembro 29, 2010

arquitetura do café paulista - I


Quem acompanha meu blog sabe que não se trata de novidade meu interesse pela história do café, ferrovia e arquitetura da metrópole. O apreço pelo ciclo do café já me levou a muitos passeios interessantíssimos pelos arredores, incluindo a Vila de Paranapiacaba, a (recém-restaurada) Bolsa do Café de Santos, e o Museu Ferroviário de São Paulo - dentre muitos outros. Pois que na agenda cultural desta semana entrou o Museu Ferroviário da Sorocabana.

vista da parte central do vitral de conrado
sorgemith, no interior da estação julio
prestes, retratrando uma locomotiva
da sorocabana
Com crescimento inicialmente fomentado pelo ciclo do açúcar - quando fazia parte do chamado "quadrilátero do açúcar", a saber: Mogi-Guaçu, Jundiaí, Sorocaba e Piracicaba - Sorocaba veio a tornar-se um ponto estratégico de concentração e passagem das tropas que, antes do surgimento das ferrovias, eram responsáveis pelo transporte agrícola até o porto de Santos.

Foi apenas em abril de 1856 que a província de São Paulo concedeu licença para um consórcio formado pelo Barão de Mauá e seus sócios capitalistas ingleses para construção do trecho que ligaria Santos a São Paulo, se prolongando posteriormente até Jundiaí. A Companhia Sorocabana de Estradas de Ferro veio a surgir quase 20 anos mais tarde - em 1875 - primeiramente focada no escoamento de algodão, mas rapidamente passando a ter como principal produto transportado o café, formando uma das 3 principais malhas ferroviárias para este transporte juntamente com a Mogiana e a Paulistana.

A história das ferrovias paulistas é apaixonante e merece muitos outros posts. Mas voltemos ao propósito deste, que é o de compartilhar a experiência de visita ao Museu Ferroviário da Sorocabana.

escultura em homenagem a luiz
matheus maylasky, fundador da EFS

Inaugurado em 1997, o museu encontra-se instalado num casarão do século XIX localizado em frente à antiga Estação Ferroviária, e no passado serviu de residência para engenheiros graduados da ferrovia. O acervo é bastante variado - fotos, máquinas, objetos usados no dia-a-dia dos funcionários da ferrovia, móveis belíssimos e até aparelhos de telefone e telégrafos antigos - porém infelizmente com identificação bastante deficiente (principalmente as fotos dos arredores da estação).


Duas dúvidas arquitetônicas me chamaram atenção em particular. Primeira: a maquete da Estação exposta no interior do museu o representa como sendo um prédio em toda sua extensão formado por dois pavimentos - mas um olhar mais atento pela janela logo atrás da maquete e de onde se avista o que restou do triunfo passado do belíssimo edifício da EFS sugere que em ambas as alas laterais (direita e esquerda), o prédio original teria apenas um pavimento, sendo dois pavimentos apenas em sua porção central, que abriga o pórtico da entrada principal.

E a segunda: num cartão comemorativo endereçado ao então presidente Getúlio Vargas e sua esposa, pelo que aparenta ter sido uma viagem política realizada por ambos nas acomodações da EFS, a imagem da Estação difere substancialmente de ambos - a maquete e o que restou do prédio original, mais se assemelhando ao traçado da Estação Julio Prestes, em São Paulo. Fiquei bem desapontada de ter saído sem entender o aparente erro de identificação na documentação do próprio museu da EFS. Mas o Google é o pai de todas as respostas e me ajudou a solucionar o enigma: o desenho no cartão do presidente correspondia ao projeto original da Sorocabana, apresentando detalhes arquitetônicos que nunca foram executados. Mas atenção: Sorocabana neste caso se refere ao nome original da Estação Julio Prestes de São Paulo - portanto, sim senhores, uma confusão e tanto!

Mas para fechar com uma pérola dentre os desenhos de nossas estações ferroviárias: vale a pena conferir o traçado da Estação Julio Prestes, numa reprodução que - segundo identificado - foi uma redução de um desenho original em escala 1:100, para escala 1:200. Emocionante vê-lo ao vivo!
Projeto original do arquiteto Cristiano das Neves para a então Sorocabana - atual
Estação Julio Prestes - com a cobertura e as cúpulas que nunca foram executadas

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