"táxi!". o motorista pára e lá vou eu de volta para o trabalho. entro no carro, um tanto quanto velhinho, mas logo a primeira boa impressão: dos alto-falantes do modesto rádio surge música para meus ouvidos. vejam bem: clássica!
"puxa, que surpresa. o senhor aprecia a programação da rádio cultura?". o motorista me sorri pelo espelho retrovisor e já vai logo avisando "passageiro que acha que música clássica é para relaxar ou dormir não é benvindo no meu táxi!". e completa: "agora mesmo, deixei um aqui bem próximo. falava ao celular como um louco, gritando, brigando. por causa do tumulto, perdi a oportunidade de saber o que é que está tocando agora. e como é bela esta ópera (sic)."
nem bem terminara seu raciocínio e já me dou conta de que esta corrida de táxi não seria nem de longe comum. e justo eu que não sou exatamente falante quando no banco do passageiro conduzida por um motorista desconhecido. provoco: "bem, vejamos se posso ajudá-lo. a mim não me parece uma ópera... belíssimo solo de violino, não? seria talvez um concerto para violino e orquestra". ao que me responde: "bem observado. e a orquestra parece acompanhar com uma marcha militar. será uma marcha francesa?". definitivamente, sui generis o nosso motorista.
depois de algumas interações na tentativa de descobrir o compositor, vem a pergunta. "a senhora é música (sic)?". ao que respondo: "não. apenas observadora. meu marido é compositor, mas eu apenas observadora". e me retruca: "se o mundo tivesse mais 'observadores' como a senhora, menos gente perderia tempo com novela e televisão. as pessoas se perdem com a televisão, ao invés de olhar seus filhos e conversar com suas famílias. uma pena. o importante é manter a cabeça ocupada com o que é bom."
chegamos ao nosso destino. faço questão de lhe deixar o troco como cortesia. mal sabe ele que teria ajudado a renovar minhas esperanças no ser humano. na caminhada até o lobby, espio o carro saindo e rezo uma prece para que ele possa ter oportunidade e força de vontade, para continuar "mantendo a cabeça ocupada com o que é bom na vida". um mundo melhor, depende de pessoas melhores. e vice-versa.
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